Relações abusivas
Falamos no crime da violência doméstica nos jornais, na rádio, na televisão… Mas será que estamos sensibilizados e consciencializados o suficiente enquanto sociedade para o que este fenómeno implica? A minha resposta é um rotundo não. Enquanto houver mulheres mortas por alguém que as diz amar, por situações de ciúme doentio (que a justiça descreve como crimes passionais), por violência em estado puro e de completo descontrolo, temos nas mãos um problema ainda bem complexo e de contornos bem escuros por resolver.
Quando era muito pequena fui vítima de bullying, muito antes desse conceito ter sido introduzido em massa no nosso léxico gramatical. Agressões físicas e verbais tornaram-se a minha realidade quotidiana e eu não sabia como reagir porque tudo o que aprendia na catequese era “Jesus Cristo deu a outra face”, ou seja tudo o que ouvia apelava a que eu não me defendesse e tentasse a todo o custo ser pacifista dentro do meu próprio problema. A minha família finalmente descobriu o que se estava a passar comigo e o meu pai foi à escola pedir para a pessoa em questão que parasse de me bater.
Isto teve consequências muito profundas na minha autoestima e autorreferenciação. Nunca me sentia boa o suficiente, apesar de os resultados escolares serem no geral muito satisfatórios. Fiz uma grande amiga, lutava por ter notas máximas, mas mo meu interior sentia-me sempre a intrusa porque era como se não fosse nunca bem acolhida no seio do grupo. Nas aulas de Educação Física, em que tinha dificuldades motoras (chegava a chamar-me de “deficiente” era a última a ser escolhida para formar grupos de jogo. Para trabalhos de ciências sociais e humanas era sempre a primeira, porque eu sabia como os fazer. Conto isto sem qualquer mágoa, no fundo todos estamos apenas a tentar simplificar a nossa vida e a trabalhar fazendo o melhor que sabemos.Read more
Quando não está tudo bem
É normal iniciar-se uma conversa com conhecidos ou amigos a perguntar “está tudo bem?”. A resposta que costumamos ouvir do outro lado é “sim, está” ou “vai-se andando”. Por vezes somos capazes de detetar um sorriso forçado, mas raramente temos coragem de nos alongar, afinal já cumprimos os padrões aceitáveis de sociabilidade e é um facto assente que toda a gente tem problemas. Mas o que fazer quando não está tudo bem? Quando nos sentimos desprovidos de razão de viver e o nosso mundo está em ruínas? É para essas pessoas que vou escrever as linhas seguintes.
Primeiro que tudo, é preciso ter em mente que todos temos tendência a escamotear o sofrimento, a não expressar o que realmente nos preocupa em determinados momentos da nossa vida. Temos uma reação evitativa e não encaramos a realidade. Todos somos culpados disso em maior ou menor grau. Com isto quero dizer que nos tornamos desconfiados, temos vergonha ou pudor, medo da perceção dos outros, de parecer frágeis e vulneráveis. Assim, atamos o nosso melhor sorriso com fita cola e tentamos ir em frente porque a vida é um espetáculo que tem de continuar.Read more
Reflexões de final do ano
O ano de 2021 aproxima-se do fim e é altura de se começarem a fazer balanços de perdas, ganhos, o que correu bem, o que correu mal, o que nos trouxe satisfação e o que nos abalou até ao âmago. É uma fase estranha em que se, por um lado nos confrontamos com as nossas limitações, também por outro queremos ser otimistas e ter esperança. Elaborar uma lista de resoluções para o novo ano continua a ser uma prática comum e muitas delas continuam a não funcionar.Read more
A beleza está na tentativa
Pensei em escrever um artigo sobre como os números controlam a nossa vida: as classificações nos exames finais, a conta bancária, a idade… Enfim, todo um conjunto de indicadores que trazem consigo pressupostos que nem sempre correspondem à verdade. Muitas pessoas usam o adágio “Os números falam por si” para justificar uma história de sucesso. Mas nas alturas mais difíceis, em que mais precisamos de ajuda, não queremos ser tratados como mais um número. Queremos ser tratados como pessoas que podem falar por si próprias ou, caso essa hipótese esteja fora de alcance, ter alguém que os represente e fale por eles.
Foi com esse intuito que comecei a Humanamente. Porque mais que uma revista digital com um pdf que sai uma vez por ano, quero que seja uma comunidade que responda a questões, a dúvidas, que ampare as pessoas na sua busca por mais informação ou tão somente mais empatia e compreensão. O conceito deste site só faz sentido se houver essa troca e partilha, que nos permita a todos nutrirmos-mos uns aos outros de conhecimento, de experiência e de (porque não dizê-lo?) humanidade em estado puro. Há demasiados conflitos e lutas de interesses no mundo atual para que não nos unamos em busca não só dos pilares com que fundei este projeto e que repito até à exaustão (saúde, bem-estar e desenvolvimento pessoal), mas também por um mundo melhor. Read more
Áreas do processo terapêutico
Em saúde mental, o processo terapêutico divide-se nas seguintes componentes: farmacoterapia, psicoterapia, hábitos de vida saudável, técnicas de relaxamento e técnicas expressivas.
A psicofarmacologia consiste na tentativa de modificar ou corrigir comportamentos, pensamentos ou humores patológicos por meios físicos e químicos. Segundo o Prontuário Terapêutico do Infarmed, os psicofármacos dividem-se em: ansiolíticos, sedativos e hipnóticos: antiepiléticos e anticonvulsionantes, antipsicóticos e antidepressores.Read more
Entrevista a Francisco George: “Os portugueses provaram ser capazes de se adaptar”
Francisco George dispensa apresentações . Nascido a 21 de Outubro de 1947, em Lisboa, licenciou-se em Medicina com Distinção em 1973, especializou-se em Saúde Pública e foi diretor-geral da Saúde entre 2005 e 2017. É membro da Associação Portuguesa de Epidemiologia, da Associação Portuguesa para a Promoção de Saúde Pública, da Sociedade Portuguesa de Virologia e Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da SIDA. Foi condecorado com vários prémios como o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, Medalha de Serviços Distintos do Ministério da Saúde- Grau Ouro e Grã-Cruz da Ordem de Mérito. Desde 23 de Novembro de 2017, exerce funções como presidente da Cruz Vermelha Portuguesa.
Em entrevista à revista Humanamente fala-nos, entre outros assuntos, das repercussões da Covid 19 na sociedade portuguesa, da importância da prevenção e defesa da saúde pública e da fé no ser humano.
1_ Que ilações principais podemos tirar até ao momento da Covid 19 em termos pandémicos, comportamentais e cívicos?
A Pandemia COVID-19 veio identificar muitas das fragilidades que temos enquanto sociedade e nas estruturas de apoio. Veio, sobretudo, transformar. Os portugueses provaram ser capazes de se adaptar às circunstâncias mais atípicas e incertas. Inesperadas. De forma exímia, reforço. Os Sistemas de apoio nos sectores da Saúde e Social conseguiram, no meio de tamanha indefinição, dar resposta positiva e eficaz. A Ciência, que já antes nos tinha ensinado a gerir situações Pandémicas, evoluiu como nunca antes, permitindo iniciar um processo de imunização ímparRead more
Metamorfose: A minha jornada de transformação pessoal

Escrevo este texto no dia 5 de Agosto de 2021. É o meu aniversário de 34 anos. Entre o meu prato favorito (bacalhau à brás), o bolo de chocolate a que soprei as velas, o tempo passado em família e telefonemas/mensagens de amigos, aproveito para refletir. Não estou onde imaginaria estar neste ponto da minha vida. Imaginava um futuro diferente quando era uma criança de 10 anos a dar os primeiros passos na escrita. Não tenho estabilidade profissional, não encontrei (pelo menos ainda) o amor da minha vida, não tenho ainda filhos (para desgosto da minha mãe).
Enquanto preparo a 6ª edição da revista Humanamente, subordinada ao tema “Dores de crescimento”, sobre a adolescência, desafio-me a mais uma vez superar as minhas próprias expetativas e para substituir o medo pela coragem e auto analisar-me com uma honestidade profunda. Nos últimos tempos assisti a palestras sobre mergulhar dentro de nós, fluir e deixar de ser prisioneiros da própria mente, mas sei de que nada adiantará se não aplicar na prática o que aprendi na teoria. E se queremos mudar os resultados, temos de mudar os processos. Read more
Beleza por dentro e por fora
Mente sã em corpo são é uma citação latina atribuída ao poeta romano Juvenal, que parece relativamente simples, mas que se torna mais complicada de aplicar na prática. A beleza é mais que máscaras faciais, as últimas linhas de maquiagem e cremes para o corpo. É algo que se relaciona com a nossa própria perceção e estado de espírito num mundo que nos faz sentir como se não fossemos suficientes, para nos incentivar a consumir produtos que nem sempre são necessários.
Crescemos a olhar para o espelho amplificando as nossas inseguranças, sem saber como é suposto sermos. Quando a nossa validação e bem-estar dependem das opiniões dos outros, vamos sempre nos sentir aquém porque os ideais de beleza mudam como as estações e a verdadeira harmonia e paz tem de vir de dentro. Temos de encontrar primeiro quem somos para conseguirmos manifestá-lo através do nosso estilo, do nosso rosto, de todos os modos ricos e distintos com que nos podemos expressar. Read more
Cultivar a amizade
No passado dia 30 de Julho assinalou-se o Dia Internacional da Amizade. Está comprovado cientificamente que ter boas amizades aumenta até dez anos a longevidade e ter pelo menos quatro bons amigos pode diminuir a possibilidade de desenvolver doenças cardíacas. Diz-se frequentemente que somos a média das cinco pessoas com que mais convivemos e que estas contribuem decisivamente para a nossa saúde física e mental. De que estamos então à espera para investir mais nas relações que construímos com os outros?Read more









