Uma vida simples

Photo by Mohamed Nohassi on Unsplash

 

Cada vezes vemos mais casos de ansiedade, de ataques de pânico súbitos e agudos, em jovens e adultos. No caso dos adolescentes é relativamente fácil de perceber o porquê destas situações dessagráveis: a pressão vinda de todos os lados, as incertezas em relação ao futuro, o medo de frustrar as expetativas, as próprias e as dos outros. Parece estar tanta coisa em jogo,  uma carga esmagadora de metas curriculares para cumprir, exigências avassaladoras que trazem angústia de não estar à altura, de não sermos produtivos e funcionais e de não nos enquadrarmos na sociedade.

É difícil conseguir fazer uma regulação emocional saudável quando não há tempo para pensar, quando a informação nos consome, quando parece que se piscarmos os olhos vamos perder alguma coisa de muito importante. Começamos a sentir-nos fora do controlo, que ninguém nos compreende nem tem os nossos problemas. Temos vergonha do que estamos a sentir e a pensar. O vazio e a tristeza instalam-se, numa solidão sem fim.

Há que conseguir relativizar o que nos acontece. Não há mal que dure para sempre. A vida é feita de fases, por vezes extremamente dolorosas, mas que nos permitem crescer e aprender a todo o instante, quanto mais não seja a saber o que gostamos e o que não podemos tolerar e a conhecer melhor o tecido de que somos feitos.

Quando o que está no nosso redor não é justo nem benéfico, devemos procurar mudá-lo, tendo sempre em mente que a maior transformação começa connosco mesmos. Que nunca conseguiremos dialogar de forma produtiva e profunda com os outros se não nos soubermos escutar verdadeiramente, confortar quando as tempestades surgem e tranquilizar quando a mente dispersa em mil e uma direções, como um computador com demasiadas janelas abertas.

Se estás a passar por um momento de crise, peço-te que pares por um minuto. Sente-te, respira, analisa as tuas necessidades cuidadosamente como um médico que tenta auscultar um coração. Tu és dono de ti mesmo, só tu podes conhecer realmente o que te faz feliz, os teus sonhos, os teus limites e as tuas potencialidades.

Dizem-nos que devemos abdicar do nosso tempo e do nosso descanso em nome de uma maior segurança financeira. Pergunta-te que batalhas escolhes, aquilo por que vale a pena lutar, que sacrifícios estás disposto a fazer em prol de um bem maior. Nunca te esqueças que a maior segurança é sentires-te bem no teu corpo, confortável, confiante e capaz de enfrentar qualquer ameaça. Tu pertences a ti próprio e não tens de te ajustar a moldes que te diminuem. És inteiro e complexo. Mereces ser aceite e amado por tudo aquilo que és e nunca teres de excluir nada de ti para integrares o que quer que seja.

Cada vez mais vejo que a minha paz interior, sanidade e felicidade residem numa vida simples. O resto é apenas fogo de vista, que não nos preenche nem acrescenta em nada. Não há coisa mais gratificante do que o mundo dos afetos, em que somos compreendidos e valorizados. É fulcral reconhecer quando não estamos bem, pedir ajuda, aprender quais são os nossos gatilhos para sinalizar possíveis dificuldades. Mas, depois o mais importante é gostarmos de quem vemos no espelho, termos autoestima e amor pela pessoa que somos. Saber que não somos perfeitos mas que desde que façamos o nosso melhor, tudo ficará bem.

Paula Gouveia