Acordo devagar e sem pressa para o dia que se inicia. Lá fora as árvores vão dançando ao sabor do vento, os passeios estão cheios de folhas e o cheiro é de terra molhada.
O outono vai chegando de mansinho, e é a minha estação favorita. Salto da cama, calço as pantufas e vou fazer uma chávena de café. Prendo o cabelo com um lápis gasto pelo tempo e sento-me a olhar pela janela, enquanto as mãos aquecem.
As pessoas correm apressadas, de olhos postos no chão e sem qualquer ânsia de olhar para o céu. Parece que a vida se tornou um ciclo repetitivo, tal piloto automático das 9h as 18.
Abro a janela e deixo o ar entrar. Coloco-me em frente ao computador, acendo uma vela de alfazema, playlist a tocar e abro a minha lista de afazeres.
Tantas coisas para fazer e tanta vontade de ir pisar as folhas que estão lá fora. Fico pelo menos 30 minutos a olhar a lista e a tentar decidir por onde começar. Abro uma folha em branco e começo a escrever. A inspiração não surge como eu gostaria, talvez seja a vida a pedir-me uma pausa.
Levanto-me da cadeira, visto-me apressada e saio para a rua.
Respiro profundamente e permito-me olhar em volta, sorrio para as pessoas, digo bom dia de peito cheio e paro para apreciar o que me rodeia. Tantas folhas, tantas cores, tanta vida do lado de fora.
Quantas vezes me obrigo a estar parada, a escrever ou a criar e me esqueço de viver?
Talvez o Outono me traga esta capacidade de saborear mais a vida e a leveza dos dias mais pequenos. Talvez seja nas pausas que me permito, que encontro aquilo que preciso para criar e encontrar-me realmente.
Tantas vezes que sinto que é lá fora que a vida acontece e se não viver de verdade, que história terei para contar?
Catarina Valadas

