Petição para alargar o período de luto parental: “Luto de uma vida não cabe em 5 dias”

 

A dor da perda de um filho é esmagadora, totalmente contra natura. Na lei está estabelecido que os pais têm cinco dias consecutivos para voltar ao trabalho após este acontecimento tão traumático. A associação Acreditar- Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro, lançou uma petição que propõe um período de alargamento de luto pela perda de um filho para vinte dias.

Nos documentos da petição enviados ao Presidente da Assembleia da República, a Acreditar, representada por João de Bragança afirma:

“Nenhum luto é igual a outro luto, porque cada um de nós é diferente do outro: há a fé, o sentido que damos às coisas, a rede social ou familiar, as circunstâncias do drama. Mas do que estou certo é que cinco dias – o tempo que o Estado nos dá para regressarmos ao trabalho após a morte de um filho – será manifestamente pouco. Em cinco dias faz-se o imediato, o urgente, tantas vezes o burocraticamente inadiável. Damos uma camada de tinta à alma e ao corpo, não lhe damos novas fundações. Não nos preparamos para o futuro, por absoluta falta de tempo”.

Bragança acrescenta: “O luto pela morte de um filho, cujos contornos estão referidos no texto da petição, não pode tornar-se num exercício repentista excessivamente condicionado pelo prazo. Há 20 anos tive cinco dias para regressar ao trabalho após a morte da minha filha de 7 anos. Serviram para pouco, para quase nada”.

  A perda de um filho é considerada uma das experiências mais dolorosas que o ser humano pode viver, pela sua natureza incompreensível e devastadora. O luto por um filho pode ser mais prolongado de que outros lutos e durar toda uma vida, associando-se a sintomas de depressão, stress pós-traumático, risco elevado de suicídio e necessidade de hospitalização psiquiátrica. Os sintomas estão mais presentes nos primeiros meses mas podem manifestar-se vários anos após a perda. Os pais enlutados apresentam ainda taxas de mortalidade tendencialmente superiores, quer devido à redução de saúde física quer da saúde mental.

O Código de Trabalho não pode contemplar a universidade das situações nem abranger um tempo indeterminado de faltas por motivo de falecimento de um filho. No entanto, revela-se evidente, segundo os psicólogos Mauro Paulino e Sofia Gabriel, que “o prazo de cinco dias é manifestamente insuficiente para a intensidade do trauma de perder um filho. Inclusivamente, a morte de um filho é acompanhada de inúmeras outras perdas, como a perda das expectativas para o futuro”.

Os pais nesta situação ficam profundamente fragilizados, emocionalmente destruídos e à luz da ciência, está comprovado, na generalidade, que não têm condições de assumir capazmente em tão curto período de tempo os seus deveres laborais.

É importante que os pais recuperem um sentido de identidade, que lidem com possíveis sentimentos de frustração, revolta e impotência, como a sensação de que falharam ao cuidar dos seus filhos. Numa dor que não se pode descrever por palavras, cabe aos pais encontrar novos significados e envolverem-se em rituais que possibilitem uma maior sensação de proximidade emocional e simbólica ao filho perdido.

É fundamental haver mais empatia, mais compreensão, para que possamos salvaguardar o bem-estar destas pessoas e apoiá-las nesta fase tão delicada das suas vidas.

 

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