No meu cantinho

 

Nem sempre nos apetece comunicar com o mundo exterior, só queremos ficar no nosso cantinho a aceitar as cartas que a vida nos joga. A sentir o que sentimos e a saber o que sabemos. A introversão não tem necessariamente de ser uma caraterística negativa e a verdade é que estamos tão bombardeados por estímulos que por vezes o nosso sistema nervoso simplesmente precisa de silêncio para recarregar baterias.

Para um introvertido uma multidão pode ser algo que exalta os sentidos e nos faz sentir desconforto porque a nossa sensibilidade dispara para todos os lados sem encontrar um foco. Há dias em que eventualmente temos de sair, de nos expressar, de fazer as nossas necessidades serem atendidas.

Mas, também há dias em que podemos simplesmente ficar na cama, dormir até mais tarde, comer algo que gostamos, ler um livro ou escrever no nosso diário as nossas emoções e pensamentos. Ficar no nosso espaço seguro, no nosso cantinho.

Para um introvertido são momentos de regeneração sem ser interrompido, em que pode recalibrar as suas energias, autorregular-se e recuperar o equilíbrio. A vida não pode ser só trabalho e tarefas desgastantes, temos de aprender a escutar o nosso corpo e deixá-lo guiar-nos e dizer o que devemos fazer.

Há alturas em que queremos ficar sós porque há sentimentos que temos evitado e com os quais temos de lidar inevitavelmente. Chorar pode ser uma boa purga de sensações como angústia, desespero e tristeza, assim como tentar elaborar o que estamos a passar num desenho, num poema, numa frase.

A expressão criativa pode fazer maravilhas para fazer-nos sentir que tirámos um peso de cima e que se deu um processo de alquimia em que emoções muito negativas foram libertas e agora sentimos até alguma alegria e esperança. Permita-se abrandar e verá que as coisas estarão muito melhor do outro lado da dor.

 

Paula Gouveia