Começo por dizer que a Andreia Salvado, nascida em Sintra em 1981, é de enorme coragem ao partilhar a sua história de saúde mental com o mundo e mais pessoas deveriam seguir o seu exemplo para desmitificar informações e crenças erradas neste quesito.
A odisseia de Andreia começa aos 29 anos, num processo de mudança de casa que a fez sentir sozinha e em descontrolo emocional. A isto somam-se as deslocações exaustivas para o trabalho de Lisboa para Sines. Andreia, formada em Engenharia do Ambiente, uma pessoa sempre perfeccionista, aplicada, disciplinada e que gostava de superar todas as expetativas, vê-se envolvida numa ansiedade paralisante. Para quem nunca sofreu deste problema, a ansiedade generalizada, como passou a acometer a Andreia, pode traduzir-se em dificuldades respiratórias, batimentos cardíacos muito acelerados (como se o coração fosse saltar do peito ou fôssemos ter um ataque cardíaco), um profundo mal-estar e tremores ou suor nas mãos. No caso da Andreia, também tinha os pensamentos a mil à hora, como se costuma dizer, e começou a sofrer de insónias persistentes. Como efeito colateral deste problema adormeceu ao volante e teve um acidente de viação que por sorte não lhe trouxe sequelas físicas graves mas que desencadeou um ataque de pânico enorme.
Para quem nunca teve um ataque de pânico, este é uma ampliação a 100% da ansiedade, em que o organismo se comporta como se estivesse em perigo de vida e causa desorientação, descontrolo e um medo gigantesco, como tão bem descreve a Andreia.
Andreia procurou quase de imediato ajuda especializada. Quando se fala em recorrer a profissionais de saúde no campo mental, o auxílio pode vir na forma de um psiquiatra que nos receita medicação e/ou de um psicólogo com quem podemos fazer psicoterapia e conhecer melhor os nossos gatilhos e, no fundo, aprender quem somos e o que nos move na vida.
Andreia aceitou a ansiedade como parte de si e decidiu não fazer dela “um bicho de sete cabeças”. Tendo por base que o bem-estar se constrói de dentro para fora e que a chuva na vida de uma planta significa crescimento e fortalecimento, Andreia muniu-se de todas as ferramentas para continuar a ser funcional, a ter uma vida normal e a sentir-se bem na sua pele. Continuou a trabalhar, a conduzir, foi mãe e seguindo a sua paixão pelas viagens, mudou-se para o México, onde foi testemunha de vários sismos. Tudo isto feitos notáveis que refletem a força de vontade da Andreia mas também a sua busca por conhecimento e pelo controlo dos seus sintomas. O yoga trouxe-lhe mais tranquilidade de espírito bem como a prática de mindfulness (atenção plena e saber estar no momento presente).
Também fala da técnica RAIN (PAIN em português):
P_ Preste atenção à experiência presente com curiosidade e gentileza
A_ Aceite a experiência e permita que ela seja exatamente como é
I_ Investigue com curiosidade as sensações físicas, emoções e pensamentos presentes
N_ Não se identifique com a dor. Pare todo o questionamento mental e perceba que é um processo natural
A história da Andreia, partilhada neste livro, “Ansiedade na primeira pessoa”, com tanta generosidade, deixa-nos uma mensagem de esperança. Podemos estar a passar por muitos sofrimentos e problemas, mas mesmo que tenhamos uma condição sem cura à vista, é possível encontrar soluções, sanar feridas e ser pró-ativo na procura de informações pela nossa saúde e a dos nossos.
Paula Gouveia