Frágil

Há dias em que nos sentimos como aqueles caixotes com o aviso “Frágil”, pois o conteúdo que levam dentro pode facilmente partir-se ou ficar danificado. Como tal, terá de ser transportado com o máximo cuidado para que chegue nas devidas condições ao seu destino. Abrandamos então o passo mas sabemos que vamos ficar para trás na corrida incessante a que já estamos habituados.

Muitas coisas podem contribuir para esse estado de fragilidade: a nossa própria cabeça quando nos bombardeia com pensamentos negativos e nos faz acreditar que nada do que somos ou fazemos tem valor. A nossa situação laboral em que podemos não conseguir responder a todas as solicitações dos nossos superiores ou até gostar do trabalho que temos de executar. Podemos sentir-nos frágeis por termos terminado um relacionamento amoroso ou por termos sido atraiçoados por pessoas próximas que se revelaram falsos amigos.

Dizem-nos que só nos desiludimos se criarmos expectativas mas como não as criar quando o mundo nos pede para aspirarmos a ter tudo? Como reacção às respostas adversas do quotidiano, podemos fechar-nos na nossa concha, isolando-nos dos outros para evitar sermos feridos novamente. Temos medo simplesmente de abrir o coração e deixar alguém entrar realmente, contemplamos o caos e os destroços e pensamos que nunca vamos encontrar uma ordem no meio de tanta dor, que nunca vamos estar inteiros.

Pensamos erradamente que as nossas asas estão cortadas ou que o vento tem de soprar sempre a nosso favor para conseguirmos abri-las quando na verdade chegar mais alto, voar em busca de novos horizontes, é como tudo na vida algo que só se aprende na prática, a fazer em vez de congeminar sem nunca ousar dar o primeiro passo.

Às vezes deixamos que na nossa casa se acumulem caixotes com conteúdo frágil, que fiquem esquecidos a um canto a ganhar pó sem sequer nos darmos ao trabalho para ver o que está dentro deles. Com as nossas emoções acontece o mesmo, temos medo de analisar o que percepcionamos como fraquezas, como escuridão, sem saber que são elas que nos iluminam. Que se aprendermos a tomar bem conta delas, vamos aprender e ficar mais fortes do que antes, cada vez com os pés mais assentes na terra e simultaneamente, com as asas mais abertas em direcção ao Céu.

 

Paula Gouveia

Crédito da foto: https://unsplash.com/photos/-hGc9RrDQVY