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Durante a época natalícia, é como se só devêssemos mostrar uma cara sorridente, banquetes e prendinhas, como se todos os problemas de que nos queixamos diariamente se tivessem desvanecido. Ora, sabemos que isso não é verdade, que muita a gente continua a sofrer com necessidades materiais, carência de entes queridos e uma sensação debilitante de não estar a conseguir acompanhar o espírito da quadra.
Pessoalmente, foi um ano muito difícil para mim com a perda da minha melhor amiga, de uma relação amorosa, de muito daquilo que acreditava e do controlo do meu próprio corpo devido a uma ansiedade por vezes esmagadora. Não me considero vítima de maneira nenhuma, não é essa a mentalidade que quero adotar. Sou criativa e autora da minha própria história.
Quero usar a minha dor como combustível, como energia que se metaboliza em vivências, em arte ou no simples movimento já que é muito mais difícil atingir um alvo se ele nunca estiver parado. Estes tempos de guerras constantes fazem com que nos sintamos em modo de sobrevivência, com a alma em feridas à espera de cicatrizarem. Temos de confiar que o nosso momento atual é um rito de passagem. No entanto, é mais sensato não esperar que o passar do tempo nos traga respostas, apenas que se continue a fazer as perguntas certas.
Nem sempre a vida nos faz sentido e perguntamos “Porquê a mim?” vezes sem conta. Mas temos de ter força e resiliência suficiente para viver um dia a seguir ao outro, sabendo que a nossa imaginação pode suavizar em parte o que ainda dói tanto. Acreditar, nem que seja numa dimensão estritamente religiosa, pode dar-nos um suporte durante estes momentos de caos global, de corações partidos e de incertezas. Tentar pensar num “Para quê” pode também ajudar a encontrar qualquer tipo de finalidade na nossa provação.
Assim, feliz Natal a todos, mesmo aqueles para quem esta é uma época de tristeza atípica. Estamos juntos e quem sabe a graça cobrirá o nosso espírito fazendo-nos ver que não somos meros seres humanos destinados a nascer, crescer e a morrer. Que somos também parte de um mistério que nos transcende e de um milagre. Por isso, desejo alegria ao mundo e que as guerras acabem em breve!
Paula Gouveia