Nélia tem 35 anos e é natural de Londres. Diagnosticada com perturbação de personalidade borderline, depressão e ansiedade, mantém a página do Instagram Diary of a Psychiatry Noob onde partilha as tuas vivências, preocupações e esperanças. Fomos conhecê-la melhor.
1. Nasceste num bairro social, criada pela tua mãe, presenciaste violência doméstica e viveste uma relação abusiva. Dirias que o teu crescimento te tornou particularmente sensível a questões de pobreza, inclusão, direitos das mulheres, relacionamentos tóxicos e defesa da saúde mental?
A resposta simples é não, quando vivemos numa situação de pobreza, e todos à nossa volta estão na mesma situação, acabamos por não ter uma clara perceção de que somos pobres. Não existia conta de poupança, nem dinheiro em caso de uma emergência, mas só me apercebi disso em idade adulta.
Em criança/adolescente acho que houve três ou quatro situações que me fizeram questionar a razão pela qual a minha casa era tão pequenina, quase sardinha enlatada e de outros não, ou a situação de pobreza em que vivia. No 4º ou 5º ano da escola primária, uma amiguinha da escola convidou-me para o seu aniversário, um sleepover, como chamamos na língua inglesa, e lá fui eu toda contente, com 20£ no bolso para oferecer como presente. Primeiro, 20 libras parecia-me uma quantidade gigante de dinheiro com os meus 9/10 anos (ainda hoje, se me derem €20, sinto que é demasiado, fico desconfortável). Porém, o que me impressionou mesmo foi a casa dela. Só a sala dela, devia ser o tamanho da minha casa toda, e a casa tinha 3 ou 4 andares. Esta situação repetiu-se mais umas 3 ou 4 vezes até ao 9º ano. Contudo, nunca senti que os pais dos meus amigos de infância julgassem os amigos que vinham de famílias com menos recursos, e sempre me lembro de ter tido boas interações.
A segunda situação foi em casa de um desses tais amigos com uma casa excecionalmente gigante. Lembro-me de dizer quanto a minha mãe ganhava ao ano e dele exclamar “vocês são mesmo pobres”, e dos pais dele me pagarem as aulas de canoagem. As restantes, era de amizades, cujas famílias tinham au pairs ou empregadas domésticas. As turmas das escolas na Inglaterra são divididas pelo teu nível de “aptidão”, uma vez que eu tinha notas mais altas, eu de bairro, estava tendencialmente em turmas com miúdos de classe média. Lembro que gozavam com os meus sapatos ou diziam que eu tinha cheiro, que talvez nesta desconstrução associo a bullying de pobreza.
Por último, a minha mãe era empregada doméstica, como tantas outras, mal paga, precária e sem contrato. Uma vez, como boa filha de pais imigrantes, tive de ir ajudar. Se algum dia, alguém precisar de um banho de humildade, é servir uma classe que se considera superior a ti. Ainda me lembro de dizer à minha mãe que aquilo tinha sido a pior sensação da vida e que não queria voltar a repetir esse sentimento.
O relacionamento abusivo dos meus pais, não dependia tanto do fator financeiro, mas sim, do religioso. Ninguém da família podia saber que o meu pai, tinha (e tem) outra família. A separação deles foi um segredo que eu tive que manter até ser adolescente. Com 16, a minha atitude de rebeldia acabou por levar a que o “casamento” imaginário fosse caindo, mas o meu pai, até à morte da minha mãe sempre a controlou psicologicamente e emocionalmente, nunca a deixando ter uma vida só dela.
O meu sonho desde que sou criança era trabalhar para ajudar os outros, numa visão muito mais bonita e utópica, daquilo que é o olhar de uma criança. Sempre quis trabalhar em cenário de conflito e a doença mental sempre me fascinou. Não sei explicar a razão, mas apesar da minha mãe ter um discurso feminista muito concreto (sempre para mim, mas nunca para ela própria), a aproximação às áreas da inclusão, migrações, pobres e direitos humanos foram-se desenvolvendo à medida em que também fui desconstruindo a minha própria realidade.
“A empatia em qualquer relação é fundamental”
2. Foste diagnosticada com perturbação de personalidade borderline, depressão e ansiedade. O que acontece, muitas vezes nestas situações, é a pessoa sentir-se uma anomalia, reduzida a uma doença ou a policiar os seus pensamentos e comportamentos o tempo todo. O que se tem revelado útil para ti no sentido de atenuar o teu sofrimento e angústia geral?
No meu caso as rotinas são fundamentais, a minha rede de suporte (pequena, mas potente), o ginásio, os planos para o futuro que faço. Não obstante, o que me mais me provoca angústia é tentar relacionar-me com pessoas desconhecidas que me causam ansiedade, e com a idade tenho tentado identificar se é o meu medo de aproximação ou, se, de facto, tendencialmente a pessoa tem traços de personalidade que me provocam ansiedade. No meu caso, tenho uma fobia gigante a ser rejeitada e crio muitas defesas quando as emoções são demasiado grandes e não cabem numa caixinha que eu controlo. Sou muito aberta com isto, e geralmente se sinto falta de empatia do outro lado, tendo a afastar-me da pessoa. A empatia em qualquer relação é fundamental, então quando a pessoa sofre de medo de rejeição e abandono, a empatia, disponibilidade e escuta ativa são ferramentas que procuro ativamente. Não culpabilizo quem não as possui, mas também não sinto que a pessoa seja indicada para mim. Quando era mais nova tinha dificuldade em assumir que também cometia erros, em particular os emocionais, hoje em dia, acho que reconhecer e pedir desculpa, e acima de tudo perguntar, ouvir e ser consistente me ajuda a atenuar o sentimento de sofrimento e angústia.
3. Muitas vezes sentimos que não somos o suficiente quando temos uma doença mental diagnosticada. No teu Instagram falas sobre dar e dar até esmorecer e da falta de empatia e compreensão das pessoas. Tens conseguido dar a ti mesma compaixão, graça e espaço para o erro? O que significa para ti a frase da escritora Maya Angelou “Faz o melhor que puderes até saberes mais. Quando souberes mais, faz melhor” [tradução livre do inglês]?
Numa conversa com uma colega, naquilo que eu chamo o pico da minha doença (altura em que me senti mais doente ou incapaz de realizar tarefas), lembro-me de lhe dizer o quanto odiava ter esta doença, não conseguia retirar nada de bom dessa. Ela respondeu-me que tinha aprendido a ser mais empática. Com os anos tenho notado isso, que sou mais empática e que isso atrai empatia. Também noto, porém, que já não tenho a mesma disponibilidade emocional que tinha nos meus 20’s. Continuo a cometer alguns “erros” de dar sem receber quando gosto de forma intensa, e é algo que estou a trabalhar na terapia. O que antigamente me revoltava na falta de empatia e compreensão de outras pessoas, hoje em dia, tento desconstruir. A própria pessoa pode não estar bem, pode não ter disponibilidade emocional ou pode simplesmente não entender. Quem me mostra interesse em querer saber mais, eu partilho, quem me diz que não tem capacidade, eu não falo, e dependendo da relação acabo por afastar mais. Eu não sou a minha doença, mas ela faz parte dos meus dias bons e maus.
4. A psiquiatra suíça Elisabeth Kluber-Ross definiu cinco estádios de luto: negação, raiva, barganha/negociação, depressão e aceitação. Sentes que com o falecimento da tua mãe, passaste, em ordem ou aleatoriamente, por cada um destes estados de alma? Tens o hábito de acender uma vela em honra dela em cada cidade nova que visitas. É uma forma de a sentires presente a cada nova descoberta?
A minha mãe faleceu dois anos após um avc que a deixou paralisada e sem falar, acho que o meu processo de luto começou quando recebo uma chamada do trabalho da minha mãe a dizer que ela não tinha aparecido, estranho, porque ela nunca faltava e tinha o telemóvel desligado. Eu estava a estudar na Biblioteca Municipal de Coimbra e de repente entrar tudo numa espiral de chamadas. Eu estava em Portugal e ela no UK. Chamadas ao meu pai, amigos, conhecidos e finalmente à polícia. Eu tinha uma relação particular com a minha mãe, devido à doença mental dela, eu tinha-me afastado para sentir normalidade, e só falava com ela ao fim de semana. Realmente, tenho a ideia de achar estranho ela não ter ligado, e lembro-me de que tínhamos falado no fim de semana anterior, eu era finalista e entre palavras, eu disse que os meus padrinhos me vinham ver nesse dia, com as minhas primas e ela agradeceu, face à ausência dela.
Durante o período em que ela esteve doente senti uma dor profunda, de repente a minha mãe deixou de existir. Se eu tivesse com os óculos não me conhecia, ficava confusa e estressada, não se conseguia exprimir e estava presa na cabeça dela devido à paralisia. Quando ela faleceu, senti alívio. Estar vivo, não é meramente um ato do bater do coração e o ar que nos enche os pulmões, mas a dignidade de viver uma vida ativa, plena e saudável.
Quando viajo, e a minha imaginação me permite, fico a pensar que se o AVC tivesse corrido de outra maneira eu a podia levar de cadeira de rodas a passear, e às vezes perco-me nesse pensamento. O acender a vela começou com isso, ela era religiosa e é uma forma de a honrar e a levar a todos os sítios onde eu viajo, entre continentes distintos e diversos, ela de alguma forma também lá esteve comigo. Faço isto em todos os países e cidades que visito, mesmo em Portugal.
“Atualmente sei que quando estou mal, tenho pessoas que me abrem a porta”
5. Perdeste também a tua gata, que caraterizas como um ser puro que te salvava de ti mesma. Há um antes e depois de ficarmos sem um animal de estimação com que nos sentíamos em simbiose profunda?
A Nami foi o que eu chamaria a minha alma gémea, onde eu estava, ela estava. Era a mais fiel das companheiras, das turrinhas de amor, de abraços. Esteve sempre em todos os piores momentos da minha vida. Muitas vezes a perda ou o luto de um animal é desvalorizado, mas quando nos sentimos isolados e sozinhos, sabemos que eles estão ali, sem julgamentos e com amor e carinho para dar. Demorei muito tempo a assimilar a morte da minha mãe, sentia que ninguém me entendia e até hoje penso nas etapas que a minha mãe não viu. Eu a licenciar-me, a tornar-me mestre, os desafios no trabalho, os sonhos de ir para fora de Portugal, um dia me casar ou tiver um filho, e tudo que eu lhe queria retribuir. A Nami foi o meu chão, depositei nela todo o amor que podia, porque senti que mais ninguém me entendia e ela estava comigo sempre. De alguma forma, preenchia a lacuna da dor que eu sentia, e quando a perdi, o meu mundo parou. Muitas vezes sinto-me ingrata por não dar valor aos meus amigos e família, mas em todas estas situações, não houve nenhum momento em que não estivessem, mas eu sentia que tinha perdido a rede que mais precisava, a minha segurança e o meu lar. Atualmente sei que quando estou mal, tenho pessoas que me abrem a porta. Que me apoiam e que se preocupam, mas passei uma grande parte da vida a achar que era um fardo que só era tolerado.
“Com a idade tenho conseguido aprender a relativizar as situações”
6. Como lidas com os altos e baixos da condição borderline, em que pequenas mudanças na rotina te podem fazer sentir assoberbada e derrotada? É possível para ti parar pensamentos catastróficos antes de tentar recorrer a automutilação ou ter ideação suicida?
A minha salvação são as rotinas. Por natureza não sou muito aberta, em particular, ao sexo masculino, por medo. Nos piores momentos, choro no trabalho, torno-me mais reativa e impulsiva e fico indignada. A medicação e a terapia tornaram-se um outlet para isso, mas não impede que aconteça. Com a idade tenho conseguido aprender a relativizar as situações, mas ainda lido particularmente mal com duas. Relações amorosas e o sentir que não mereço ser amada e quando não consigo ser “perfeita” no trabalho. Com os anos, a minha doença fez-me sentir que eu era intolerável, que era demasiado e ninguém merecia ter que aturar “isto”, tive relações psicologicamente violentas e entrar num padrão de me apaixonar por pessoas emocionalmente indisponíveis. Depois parei por completo. Convenci-me que era melhor estar sozinha e que não podia ter o sonho de ser mãe. Isto é um dos fatores que mais me cria instabilidade e onde estou a tentar evoluir. A. Sentir que sou digna de coisas boas e amor e B. Aprender a confiar, apesar de sentir que as pessoas me querem fazer mal.
Por isso, dependendo da situação, lido de forma diferente. Ainda lido mal quando me sinto rejeitada, ainda tenho momentos de ideação suicida, ainda tenho impulsos de automutilação. Quando isso acontece, deixo-me respirar fundo, chorar e se possível sair de casa ou ligar a alguém. E sim, eu ligo para os meus amigos a chorar e deixo-os falar até acalmar ou adormecer.
“Quando algo ou alguém não nos faz sentir bem, é altura de mudar e afastar”
7. Escreves “Quando as coisas derem errado, as pessoas certas vão estar sempre lá, mesmo que eu desista de mi mesma” [tradução livre do inglês]. É algo em que ainda acreditas? Como foi para ti o primeiro trimestre de 2025?
2025 tem sido um desafio. A nível de trabalho existem muitas exigências e acabei num ciclo de trabalhar dias seguidos, ainda dou aulas em pós-laboral no ensino superior. Sinto que estou sempre a correr. Conheci uma pessoa que acabou por não me fazer bem e entrei num loop que me levou às urgências da psiquiatria no Hospital de São José, em Lisboa. Uma experiência horrível, e que se fosse o meu primeiro contato com a psiquiatria, nunca mais voltaria. Trabalho numa área desafiante e jamais eu, ou algum colega meu teria aquele comportamento agressivo com um/a utente. Creio que foi a primeira vez que senti uma sensação de humilhação no tratamento que recebi, como se fosse “a maluquinha”, à procura de atenção, como se naquele dia em particular me tivesse apetecido ir passear às urgências.
Fui a duas ilhas de Cabo Verde e senti que não estava verdadeiramente lá, um país lindo e eu presa na minha cabeça. Bebi caipirinhas de tamarindo, dancei na praia, fui ao Campo de Concentração do Tarrafal, comi comidas incríveis e entrei numa água quentinha, mas a minha cabeça estava presa na ansiedade e cansaço que estava a sentir. Não conseguia dormir e a minha pele está em ferida desde agosto do ano passado. Quando cheguei bati no fundo e tive de recomeçar um novo tratamento psicofármaco que está a resultar, mas continuo com a ansiedade e com os problemas na pele. Tive que me relembrar que quando algo ou alguém não nos faz sentir bem, é altura de mudar e afastar, especialmente se a comunicação não está a funcionar.
Os meus amigos e família, estando longe ou perto tiveram sempre tempo para mim durante este período e eu, como tanta gente, que se sente sozinha, senti uma imensa gratidão por ter pessoas que me dessem um abraço de apoio. Há situações quase cómicas em que peço a um amigo meu para me cantar o “soft kitty” do Big Bang Theory, mas mesmo com o apoio há dias em que sinto uma solidão e tristeza profunda, nem sempre me é fácil verbalizar em voz alta o que sinto, e pedir ajuda.
8. No Instagram destacas uma canção do músico Ren intitulada “Hi Ren” em que ele fala que dançamos com as sombras e somos seres humanos. Sentes que estás mais em paz com as tuas contradições, com a sensação de buraco na alma e de impotência que sentimos perante a Humanidade que nos cerca?
A quem ainda não ouviu o “Hi Ren” do Ren, aconselho vivamente que o faça. Nas referências culturais, encontro pouco com que me identifico. Em particular, destaco o episódio 3 da 1ª temporada de Modern Love com a Anne Hathaway e os desafios que uma pessoa com doença mental encara nas relações, sejam elas de amizade ou românticas. A segunda referência é Crazy Ex Girlfriend, que até hoje para mim é um gatilho, mas vou vendo em partes. Esta série demonstra de uma forma muito honesta como é receber e lidar com o diagnóstico de Borderline e os comportamentos associados. Por último, destaco também a série australiana Please Like Me, que para além de apresentar questões da comunidade LGBTQIA+, mostra a realidade de viver com uma mãe que sofre de uma depressão profunda.
A música do Ren apareceu-me um dia aleatoriamente no TikTok e fui ouvir a versão completa. Senti uma conexão imediata, de reconhecimento de que vou ser uma doente crónica a vida toda e que, mesmo nos dias bons existe sempre uma voz que abafo através da terapia e da medicação, mas que está lá. Sinto muitas vezes que sou uma impostora, que sou incapaz, que não mereço ter o trabalho que tenho e que sou menos que os outros. A música também fala muito em aprender a ser mais meiga, mais leve e isso tenho tentado controlar os impulsos de reatividade e deixar as pessoas que conheço menos se aproximarem mais, Contudo, nos dias mesmo maus fecho-me no meu mundo, para ter energia no dia seguinte para enfrentar o mundo real de novo.
“Quero contribuir para uma mudança positiva”
9. Escreveste que gostavas de ser diferente, paciente e amorosa como a tua mãe era. Ao manter as boas memórias vivas e ao imbuíres-te das qualidades que tanto amavas nela, dá-te força e coragem para continuares o teu caminho?
Sempre achei que herdei o melhor da minha mãe, mas também tenho medo de herdar o pior, e deixar que a depressão, ansiedade e borderline me consumam a vida toda, ao ponto em que perco o rumo. Não quero ser um padrão, uma repetição de um ciclo de violência e doença. Escolhi trabalhar na área social e de desenvolvimento porque sinto uma forte vontade de apoiar as pessoas a mudar a vida deles. Tal como adoro dar aulas, porque sinto que estou a devolver conhecimento e que tenho de ser paciente. No fundo quero contribuir para uma mudança positiva. Quando vim morar para Lisboa há 3 anos, nem abraços tolerava, odiava que me tocassem, e foi através de uma colega de trabalho que aprendi a deixar-me ser abraçada e a relaxar com o toque de pessoas que não me eram próximas naquele momento. Mesmo assim, ainda afasto as pessoas quando sinto que não estou a ser compreendida. Existe no fundo um medo exacerbado de dar amor e de sentir que fui rejeitada ou abandonada.
A minha mãe era bondosa, o amor que tenho pelos direitos humanos ganhei dela e das leituras que ela fazia. De a ver comprar comida a pessoas que andavam a pedir na rua, “comida nunca se nega a ninguém”, dizia ela e ia com a pessoa para essa mesma escolher o que queria. Preocupava-se imenso com as pessoas e o mundo à volta dela, e foi consumida por uma relação violenta e psicologicamente nunca recuperou.
“Sinto que tenho várias versões de mim”
10. És uma pessoa autossuficiente, fazes viagens sozinha e ultrapassaste o teu medo de mergulhar. Dirias que estás a tentar mudar a tua narrativa interna e a sentir-te mais digna de ter coisas boas e de amar e ser amada?
Sempre amei culturas e viagens, talvez por ter várias nacionalidades. Na adolescência apaixonei-me pela Argentina e pela Colômbia. Apaixonei-me pela Ucrânia e a Bielorrússia e pelos Balcãs. O meu sonho em criança era ser jornalista de guerra e agora em adulta. trabalho na área das Migrações. Desde pequena que fui curiosa, queria saber mais e queria ter uma voz ativa para a mudança. E sinto que tenho várias versões de mim.
A versão aventureira e curiosa que pega na mochila e vai sem medo. Que faz e prova e dá o salto. Que muda de país e de trabalho.
A versão que quer amar mas não sabe como, nem como pode ser saudável.
A versão que sai da cama às 7 da manhã para aproveitar o dia.
A versão que fica na cama e só chora.
Tenho o meu blogue porque para mim foi o outlet que encontrei para controlar emoções e de certa forma dizer às pessoas que não estão sozinhas. Em alguns posts sou mais positiva e outros mais negativa, é a realidade da doença. E na verdade, a vida é feita de altos e baixos, no meu caso com uma “especiaria” extra de desregulamento emocional. Nem sempre sinto que mereço estar cá, nem sempre sinto que sou digna, mas tento lutar contra isso com o meu espírito de aventureira e através do meu trabalho e acima de tudo, através de ser a melhor pessoa possível para as pessoas que me rodeiam e eu adoro.
Paula Cristina Gouveia