Dia Mundial do AVC

A propósito do Dia Mundial do AVC, que se assinalou este domingo, dia 29 de Novembro, queria refletir um pouco sobre esta doença que já me levou pelo menos um ente querido.

A nível mundial ainda existe um atraso significativo entre o início do AVC pediátrico e o seu diagnóstico, devido ao não reconhecimento das manifestações iniciais pela família e profissionais de saúde. É preciso sensibilizar a público em geral para esta condição com grande impacto no desenvolvimento e autonomia das crianças.

Segue em baixo um texto de uma especialista nesta área.

O AVC na idade pediátrica (desde o final do 1º mês de vida até aos 18 anos) tem uma incidência mais  reduzida que no adulto e ocorrem 1.2 a 13 AVCs por cada 100 000 crianças/ adolescentes em cada ano. O AVC pode ocorrer ainda mais precocemente, durante a gravidez ou após o nascimento, sendo mais  frequente no primeiro mês de vida.

Tal como no adulto existem dois tipos de AVC, o isquémico e o hemorrágico. Na idade pediátrica as causas  do AVC isquémico são diferentes do adulto e cerca de metade das crianças têm uma doença já conhecida.  As causas mais frequentes são doenças da parede das artérias devidas a infeções, inflamações, doenças  genéticas ou metabólicas, doenças cardíacas e doenças do sangue (hematológicas) como a doenças de  células falciformes.

A apresentação clínica mais frequente é a hemiparésia (falta de força em metade do corpo), porém pode se apresentar como uma assimetria motora dos membros detetada pelos familiares ou profissionais de  saúde nos primeiros meses de vida. Outras manifestações podem ser crises epiléticas, alterações da  consciência, cefaleia intensa, vómitos, alterações visuais, assimetria facial, desequilíbrio da marcha ou alteração da linguagem. À semelhança do que ocorre nos adultos, perante o aparecimento súbito de  algum dos 3Fs (dificuldade em Falar, alteração na Face ou falta de Força no braço/perna), deve ser  considerada a hipótese de AVC e ao ligar para o 112 é ativada a Via Verde. Desta forma permite-se o  acesso mais rápido a tratamentos em fase aguda que minimizam o sofrimento cerebral e melhoram o  prognóstico. A nível mundial ainda existe um atraso significativo entre o início do AVC pediátrico e o seu  diagnóstico, devido ao não reconhecimento das manifestações iniciais pela família e profissionais de  saúde, e/ou estas serem atribuídas a outras doenças mais frequentes nesta idade (enxaqueca, epilepsia  ou infeções).

As crianças e adolescentes apresentam geralmente uma recuperação melhor e mais rápida devido à  plasticidade cerebral, contudo, a mortalidade pode ocorrer em 10-25%, e as sequelas motoras, cognitivas  (dificuldades de aprendizagem), comportamentais e emocionais estão presentes em 40 a 60% dos  doentes.

Na equipa multidisciplinar que cuida destes doentes, para além da Neurologia, a Reabilitação  desempenha um papel crucial, desde a fase aguda após estabilização clínica até ao tratamento das  sequelas neurológicas que comprometem a vida quotidiana. Os médicos fisiatras, fisioterapeutas,  terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala e psicólogos em conjunto com a criança/adolescente e família  elaboram um plano de reabilitação personalizado face aos défices neurológicos, idade, horário de estudo  e tempo de lazer. Sempre que possível é promovida a capacitação dos pais e cuidadores e como principais  objetivos salienta-se a promoção da autonomia e funcionalidade, para permitir uma vida com qualidade do ponto de vista familiar, académico e social.

Rita Lopes da Silva

Neuropediatra