Deixar ir

Quem devemos ser se idolatramos o herói duro, forte e impenetrável que parece não ter a mínima dificuldade em salvar o dia?

E se quem salva o dia não se consiga salvar a si mesmo porque levou o corpo ao limite?

Nas mulheres o tema é mais dramático, espera-se uma mulher perfeita, sempre senhora de si e sabemos que são severamente mais cobradas que os homens por qualquer problema nervoso ou emocional, sendo imediatamente etiquetadas de histéricas sem sem tentar ver-se a realidade subjacente.

É na harmonia, sintonia profunda destas duas energias nas pessoas que conseguimos olhar no espelho sem raiva ou deceção e escolher o que queremos mudar e ver que narrativa escolhemos alimentar a nossa mente pois tudo em que nos focamos expande.

Por exemplo, eu posso dizer que sou uma jovem falhada que não teve uma carreira convencional. Mas talvez não seja suposto eu ter uma carreira convencional. Sou uma estudante insaciável da vida, muito curiosa e tenho aprendido muito. Escrevo muito e leito muito, durmo cedo e acordo cedo. Essa é a minha rotina habitual. Sei dos meus gatilhos, do que me pode levar ao limite e à hospitalização psiquiátrica novamente e obviamente não quero isso.

No entanto, não podemos controlar tudo o que nos acontece na vida, desgostos que se manifestam de forma psicossomática específica, situações que nos assustam, a sensação de pânico. Se pensarmos estes dois foram inicialmente formados para a nossa sobrevivência física faz sentido em acolhê-los como amigos em vez de sentir tanta vergonha de perder o controlo, de ficar vulnerável.

E se todos os segredos fossem revelados e as máscaras caíssem? Seria o mundo melhor?

 

Paula Gouveia

 

Foto de Llanydd Lloyd na Unsplash