As doenças invisíveis

O mundo avança uma velocidade estonteante e muitas vezes sentimos que não se compadece com as doenças. Nem com as chamadas visíveis, como uma pessoa que use cadeira de rodas para se deslocar ou as foro psíquico. De facto, às vezes chego à conclusão que o mundo não está mesmo construído para quem tenha qualquer tipo de limitação. Os primeiros porque não têm a acessibilidade que gostariam e são confrontados diariamente com comportamentos capacitistas. Os segundos, porque apesar de todo o avanço nas Neurociências ainda é tabu dizer-se que se sofre de uma doença mental, pelo desconhecimento da sociedade, por medo de ser visto como inferior ou de sofrer represálias.

Todas as experiências fazem de nós aquilo que somos, seja moldados pelo sofrimento ou elevados pelas alegrias. Enquanto doente bipolar também a sofrer de ansiedade e ocasionalmente ataques de pânico, sei o que é ficar sem conseguir respirar como deve ser e pensar que estamos a viver o último segundo das nossas vidas. Perder o controlo completamente porque se deu a algo uma magnitude que este não possui. Há uma componente biológica, da genética (que diz respeito à medicação receitada pelo médico psiquiatra)  nas doenças invisíveis e outra, a que diz reporta o lado psicológico, que pode ser tratada em Psicoterapia, por exemplo.

Há cinco traços de personalidade consideradas gerais: abertura, conscienciosidade, extroversão, agradabilidade e neuroticismo. Estas caraterísticas não estanques e rígidas. Eu, pessoalmente sinto que tenho um bocadinho de todas, mas talvez nos últimos dois anos tenha pendido mais para o neuroticismo (preocupação excessiva com as coisas, com eventos que ainda não aconteceram nem tenho a certeza se vão acontecer, pensamento catastrófico e de tudo ou nada também). A abertura tem a ver com a nossa curiosidade natural de apreender estímulos novos, a conscienciosidade pode estar relacionada com responsabilidade, a agradabilidade pela necessidade de ser aprovada pelos outros e o neuroticismo com uma vida interior mais caótica e instável.

Quando a vida se transforma num emaranhado de emoções, pensamentos e sentimentos que não conseguimos ordenar nem fazer sentido, procurar ajuda externa pode ser muito importante. Para que o medo deixe de nos parecer monstros gigantes e até possíveis sintomas psicossomáticos possam desaparecer, aos poucos, com o tempo. O fundamental é ter paciência e confiança no processo. Ter autocompaixão e gentileza são essenciais para tornar tudo mais agradável e construtivo.

É possível viver uma vida equilibrada e de qualidade mesmo tendo uma doença mental, desde que se adira ao devido tratamento e terapêutica. Os dias sem esperança são uma fase que acabará por passar porque na vida tudo se renova e temos sempre a possibilidade de mudar aquilo que não gostamos em nós e a forma como reagimos às situações, àquilo que nos acontece. Em vez de termos uma visão centrada no problema, temos de desenvolver uma visão focada em soluções porque tudo acaba invariavelmente por se resolver, de uma maneira ou de outra.

Importa refletir nas palavras de Buda “A dor é inevitável. O sofrimento é opcional”. Temos a capacidade de buscar alguém que nos acompanhe nessa jornada de compreensão, de crescimento e de evolução.

 

Paula Gouveia