Amor em tempos de vírus

 

Os tempos são de incerteza e de desconfiança, não fosse o caso de um vírus circular no ar semeando um pânico crescente. É lugar comum dizer que temos o mundo na ponta dos dedos mas se assim é porque nos sentimos cada vez mais isolados e há tantos temas fracturantes na sociedade? O que é preciso para acreditarmos mais em nós mesmos e nos outros?

A teoria do Cisne Negro, concebida por Nassim Nicholas Taleb refere-se a um acontecimento imprevisível, que não se esperava normalmente, a nível histórico, científico, tecnológico ou financeiro e que tem efeitos sem precedentes.  Tivemos vários eventos nas últimas décadas que causaram rupturas na ordem mundial, independentemente de poderem ou não ser classificados de acordo com o critério de Taleb como o 11 de Setembro, a crise económica de 2008 ou o mais recente COVID 19.

No filme “Cisne Negro”, realizado por Darren Aronofsky e protagonizado por Natalie Portman, uma das minhas obras cinematográficas preferidas, assistimos à dualidade de personalidades da bailarina Nina Sayers, em paralelo com os dois cisnes. Temos o cisne branco que é a menina doce, algo previsível, obcecada com o rigor, disciplina e virtuosismo técnico, que quer controlar tudo na sua expressividade e o cisne negro, a mulher que procura atender às próprias necessidades e desejos, que tem uma paixão e uma intensidade envolvente em cada movimento. É do cruzamento entre estes dois aspectos da psique que temos um ser humano integral, Nina e a sua versão da perfeição.

Num mundo capaz dos maiores actos de crueldade, de egoísmo, de passar por cima de qualquer coisa para atingir os seus fins, há também actos de bondade, de altruísmo, de pensar nos outros e na natureza, na Mãe Terra, sem a qual a nossa existência não é possível. Não nos podemos iludir, todos somos capazes de ser bons e maus, com um lado resplandecente e obscuro ao mesmo tempo. A vida vai para além das tonalidades preto e branco, está nas matizes cinzentas do intermédio.

Nestes tempos conturbados que nos possamos proteger, cuidar, pensar em nós mas ter também civismo e pensar em quem está ao nosso redor porque a saúde de uma pessoa é a saúde de todos. Que ajudemos o próximo na medida do possível. Não permitamos que as dificuldades tragam à tona o pior de nós. Transformemos as turbulências em lições, em oportunidades. Respondamos aos problemas e desafios com o nosso melhor, com amor.

 

Paula Gouveia

Imagem retirada de: https://unsplash.com/photos/Ggv3i6oxPcg