Adorar tudo o que temos

 

Fevereiro é o mês do amor por excelência, com o tão badalado Dia dos Namorados à porta e todo o consumismo inerente que isso envolve. Adorar alguém, quer seja numa relação familiar, de amizade ou amorosa passa por aceitar que essa pessoa terá sempre defeitos, falhas, aspectos que não nos agradam e que nos vai desiludir uma vez ou outra. Mas, estarmos convencidos que o que temos com essa pessoa é forte o suficiente para resistir às intempéries inevitáveis da vida porque é só nosso, foi construído com o nosso tempo, esforço e emoções, com as nossas gargalhadas e lágrimas, com discussões, com períodos de tréguas e de fazer as pazes.

Não podemos ter nenhuma relação significativa com ninguém se não aceitarmos primeiro quem somos, na totalidade. Se não nos dermos tempo para cuidar de nós, para fazer pausa quando a vida correr veloz pois é nesses momentos que nos perdemos na contemplação simples, calma e serena, sem julgamentos, sem pressões, sem expectativas, que percebemos que somos capazes de amar e de ser amados.

Adorar algo ou alguém é colocá-lo de certa forma num pedestal, é saudar o vislumbre de espírito divino que vemos nele, é acreditar por mais que hajam problemas e dores, vale a pena continuar a olhar dessa forma para essa pessoa ou coisa. Que no final de contas tudo valerá a pena. Não é um exercício passivo, de servidão. Naquilo a que damos tanto da nossa atenção e amor vemos o nosso reflexo e ao sermos iluminados, conseguimos sentir a luz que vive dentro de nós. A luz que ilumina tudo quando nos permitimos apenas ser e deixar ser. Quando não queremos ter, apenas fluir com o que nos é dado observar.

Adorar é pois contemplar sem desejar possuir, é ajudar desinteressadamente, é sorrir com toda a genuinidade porque nem seria possível fazê-lo de outra forma. É diferente de todos os desejos efémeros e passageiros, dos caprichos voláteis do ego, vem das profundezas do espírito.

Não precisamos de ter tudo o que queremos para ser felizes. Só precisamos de adorar tudo o que temos. E nunca fechar o coração a novas experiências, novas oportunidades de conhecimento, de verdade, de aprendizagem. Porque os medos não podem dominar as nossas escolhas, servem um propósito e controlam-nos até certo ponto, depois tem de ser o coração a tomar as rédeas do nosso destino porque só ele saberá o que é melhor para nós, o que é realmente merecedor do nosso tempo, da nossa atenção, da nossa contemplação pausada e tranquila, da nossa adoração.

 

Paula Gouveia

Créditos da foto: https://unsplash.com/photos/CnYwFVQ56Eg