A força que vem de dentro

 

“Força!” é uma palavra que se diz a propósito de quase todos os momentos difíceis na vida. Que temos de conseguir ultrapassar um obstáculo, um desgosto, uma perda e simplesmente seguir em frente.  Aprendemos que desde cedo que devemos mostrar os nossos pontos fortes e esconder as nossas fraquezas. Não gostamos de nos sentir vulneráveis, como se o coração batesse fora do peito e os nossos sentimentos se pudessem ler na nossa testa. É desconfortável e incomodativo porque não foi isso que fomos ensinados mas sim a procurar defender e proteger as partes mais delicadas de nós mesmos, aquelas que são frágeis, preciosas e sem filtro.

Ser forte hoje em dia tornou-se quase sinónimo de aguentar tudo sem uma queixa ou lamento, de não desabafar com as pessoas próximas, de pensar que se resolve tudo sozinho e levar o corpo ao limite lutando por uma perfeição inatingível. Os tempos são, cada vez mais, de individualismo, de trabalho excessivo, de desgaste. Pensamos que o natural é estarmos cansados o tempo todo, com uma sensação de estar saturado vibrando forte no nosso interior. Pensamos que a vida é isto, uma lista infinita de tarefas para cumprir, sacrifícios que nunca mais acabam.

Porquê este estado de coisas? Porque vida, para muitas pessoas, tornou-se apenas sinónimo de trabalho e esquecemos de expressar as nossas emoções e ideias de uma forma saudável, com naturalidade, à medida que nos vão surgindo. À medida que as sentimos. Pensamos que temos de fazer face às adversidades a todo o custo sem entender que por vezes uma perspetiva de fora, uma segunda opinião é tudo o que precisamos para vencer uma batalha.

Não há nada de errado em pedir ajuda, pelo contrário, é bastante louvável admitir quando um fardo se torna demasiado pesado e precisamos de alguém que o carregue connosco. Nada há de errado em admitir que não nos sentimos bem e chorar. A força tem todo o mérito quando vem de dentro, quando é autêntica e não quando é fingida porque estamos convencidos que é o correto a fazer.

Esquecemos as imagens pré-concebidas, as categorias e os rótulos. É preciso escutar realmente o nosso corpo e sermos mais empáticos a começar connosco mesmos. É normal termos medo. Medo de não sermos capazes, de que os outros vão pensar de nós, medo de mil e uma coisas. Mas viver valerá sempre a pena, nos bons e nos maus momentos e temos de honrar tanto a luz como a sombra, os lugares superiores e mais recônditos do nosso ser. Ser forte não é nunca fraquejar, é seguir em frente apesar de tudo porque acreditamos num desígnio maior e porque acima de tudo acreditamos em nós mesmos.

Paula Gouveia

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