TÍTULO
Guarda um pedaço meu em ti
SINOPSE
A morte de uma manta de retalhos.
Personagens:
Manta de retalhos, cansada, triste, partida.(vários quadrados de varias cores)
Tear- calmo, sábio, carinhoso
Lençol branco- o positivo
Lençol preto- o negativo
( o Tear encontra-se no centro da cama, sentado.
O lençol branco e o lençol preto no lado direito, costas coladas um ao outro num equilíbrio/desequilíbrio corporal. O palco tem só a cadeira do Tear e um candeeiro de chão.)
(Entra manta de retalhos cabisbaixa ate cair ao pés do Tear)
(M. De retalhos suplica ao Tear)
M.R. Guarda-me num cantinho de ti, só um pedaço meu.
(Tear olha para a manta com ar ternurento)
T- Não posso.
M.R- Por favor guarda um pouco de mim, eu estou partida, a desfazer-me. Dei de tudo de mim ao mundo e virei esta manta de retalhos sem lógica. Dói. Não tenho lugar.
Guarda um pedaço meu que funcione, que se encaixe no mundo, que te faça feliz e deita todos os outros fora.
(Estende ao Tear várias linhas de várias cores)
T: E como poderia eu fazer isso? Que parte tua poderia eu guardar? O teu sorriso de manhã como um raio de sol? As tuas lágrimas que caem como chuva em terra seca quando já sugaste toda a dor ao teu redor? O teu pedaço guerreiro? O teu lado criança inconsequente? O teu vai ficar tudo bem mesmo com a casa a arder? As tuas más decisões? A dor que causaste aos outros? A dor que causas-te a ti? O teu mau humor que cai como uma chapada a quem conta sempre com o teu sorriso? A tua luz? A tua sombra? Como posso eu guardar um bocado de ti em mim?
M.R.- Guarda o bom
T- Qual bom? Como posso guardar o bom sem ter o mau? É o bom mesmo bom? E o mau mesmo mau? Um dia de sol é bom, sempre sol seca o mundo. Um dia de chuva é preciso, sempre chuva e o mundo acaba submerso.
( Lençóis preto/branco reagem, rodam de forma ao lençol branco ficar virado para a Manta Retalhos)
Lençol branco- Eu quero o teu lado bom!! Dá-me o teu sorriso! Dá-me a tua dança, os teus sonhos! Quero viver o mundo assim.
( Lençol preto reage, rodam de forma ao lençol preto ficar a olhar para a manta de retalhos)
Lençol preto- Eu quero a tua dor. Eu quero as lágrimas, quero o sofrimento, quero a tua raiva, só isso merece o mundo, o mundo é isso. Eu guardo um pedaço teu.
(Estica o braço para a manta de retalhos)
( Manta de retalhos vai em direção ao lençóis, tear interrompe)
Tear- Espera!!
Não deixes nenhum pedaço teu! Vai! Despacha-te! Cai! Desaparece! Não há bom ou mau, não há vida ou morte. Tu não és pedaços bons ou maus. Tu és. Tu és completa! Tu não precisas de ser nada para além de ti.
A dualidade é ilusão
Tudo tem de acontecer
As coisas simplesmente são
Para estar vivo tem de se morrer.
( Tear levanta-se, ata todas as linhas da M.R. e caminha em direção aos lençóis para os atar a ele)
Então mata todos os teus pedaços, desapega-te das partes que temes perder.
(Caminham em direção à manta de retalhes para unirem-se)
Só quando te perdes e perderes tudo vais perceber que todos nós somos tu e tu não tens nada a perder.
(Terminam como unidade, manta de retalhos perde todas as linhas ao longo do decorrer da peça e acaba “nua”)